Poema para as resistentes

05/05/2017 Amanda Timóteo

Sempre depois do grito
A voz rouca 

Nos mal dizem louca 
quem não sabe da nossa andança 
de pés castigados 
pele rasgada 
cabeça tonta de resolver 
problema meu e problema teu 
que é problema nosso 
mas quase ninguém fica 

A gente se emenda depois de tudo 
e ainda tem coragem de viver 
outros absurdos 
Lutar porque não é um samba 
a gente dança sem sorrir 
e não é romântico se iludir 
de acreditar 

São estradas tensas 
Puxam o nosso tapete dos pés 
Arrancam nossas tranças 
Destroem nossos laços 
Violam nossos corpos 
E sem nenhuma preocupação 
não nos deixam ir 
nem vir 
voltar pra viver 

É ruim sobreviver 
Depois de mais um dia 
Sabendo do cadáver 
que se assemelha 
a minha trajetória 

Menos uma de nós 
Mais uma pra eles 
Morte matada de novo 
pelo mesmo filho 
do patriarcado 

Sempre depois da força 
Do punho 
Vem o choro 
quase morto 
ressuscitado 
da dor de sermos mal amadas 
pela cultura narcisista de machos 

E a gente vive 
pra contar história triste 
e de vitória 
E sabe que vive por causa do seio 
de cada uma que escreveu nossa glória 

Há dias impossíveis, eu sei 
As ruas nos dizem mais do que a lei 
O rei é rei, e não rainha 
a gente cansou 
mas inspira 
O machismo é louco no Brasil, viu?! 
retrocesso é boia 
Mas a dias impossíveis 
Enfrentar!

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