Poema para as resistentes
Sempre depois do grito
A voz rouca
Nos mal dizem louca
quem não sabe da nossa andança
de pés castigados
pele rasgada
cabeça tonta de resolver
problema meu e problema teu
que é problema nosso
mas quase ninguém fica
A gente se emenda depois de tudo
e ainda tem coragem de viver
outros absurdos
Lutar porque não é um samba
a gente dança sem sorrir
e não é romântico se iludir
de acreditar
São estradas tensas
Puxam o nosso tapete dos pés
Arrancam nossas tranças
Destroem nossos laços
Violam nossos corpos
E sem nenhuma preocupação
não nos deixam ir
nem vir
voltar pra viver
É ruim sobreviver
Depois de mais um dia
Sabendo do cadáver
que se assemelha
a minha trajetória
Menos uma de nós
Mais uma pra eles
Morte matada de novo
pelo mesmo filho
do patriarcado
Sempre depois da força
Do punho
Vem o choro
quase morto
ressuscitado
da dor de sermos mal amadas
pela cultura narcisista de machos
E a gente vive
pra contar história triste
e de vitória
E sabe que vive por causa do seio
de cada uma que escreveu nossa glória
Há dias impossíveis, eu sei
As ruas nos dizem mais do que a lei
O rei é rei, e não rainha
a gente cansou
mas inspira
O machismo é louco no Brasil, viu?!
retrocesso é boia
Mas a dias impossíveis
Enfrentar!
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