Segredos e belezas.

25/04/2017 Amanda Timóteo

  Para ler ouvindo Otto - Dias de janeiro.


  A vida passa agora do avesso, dando ré no caminho de sempre, mas sem retroceder. É que estou andando de costas, e hoje não sei o que está na minha frente de fato, pelo menos sei o que se vai nas minhas costas todos os dias. É um metáfora sem droga (espero que entenda da segunda vez que ler), se eu não estivesse nessa posição meio insegura, não estaria aqui escrevendo bagunças, criando uma conversa lunática. Perderia de observar as peculiaridades das periferias, porque a cada etapa dessa viagem de metrô me deparo com a diversidade das comunidades suburbanas das lamas, vivem ali transitando os quintais - nós que somos do caos da esperança.

  E também, se não estivesse indo ver esse amor, que mora longe, e tem que descer quase na última estação... Se eu não fosse, e não estivesse disposta, perderia de ver o pôr do sol atrás de um concreto, fazendo valer sempre uma tarde de janeiro, embelezando a pelada dos meninos da favela num chão de terra... Perderia o anoitecer dentro do ônibus, que nem é grande coisa, mas vale a pena o caminho.

 E não daria os beijos doces, e nem conheceria bem os trejeitos do galante, que não é de filme, mas é mais charmoso que qualquer uma dessas mentiras.

 A vida agora é uma reviravolta, o ano mal começou, e janeiro já esquenta, esquenta, esquenta tanto que mal tive tempo de refrescar a memória, já amo sem volta e sem medo de fim, sem troca, só pelo prazer de gostar, de gostar de amor lúdico, de amor. Nem sei mais quando, só sei que hoje o tanto que caminhei, fiquei de pedacinho em pedacinho pelos cantos, nem quis voltar tão cedo, fiquei um bocado no colchão quando peguei o ônibus voltando dia dois de janeiro. Mas tanto arrodeio valeu à vista e o beijo, que não volta.


-Um de janeiro de 2016, 17 e pouca.

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