Fim do prANtO

30/12/2016 Amanda Timóteo

Para ler ouvindo Karina Buhr - Dragão
E deixa rolar.

  É como se tudo que aconteceu esse ano foi ano passado, acordei ano passado e fiquei burra ano passado, tudo passou, e tudo passou tão depressa que mal pude olhar para trás pra ver a merda, nem as cortesias da vida. Mas, nada passou por passar, ficou assim meio confuso para provar que a vida pode ser confusa, e foi, chorei muito pensando e chorei demais porque não pensei, em compensação sorri um monte sem planejar.

  O que eu sinto é um arrependimento profundo por não ter ido pedalar no sábado ou no domingo, ou em qualquer dia da semana, eu poderia ter ido andar de bicicleta e não deu, nem me lembro o motivo, porque não foi especial. Poderia escrever aqui um texto muito maior com a lista de tudo que não fiz, não quis fazer, não conseguia, não fui, não deu, não posso. Sinto um anteontem aqui dentro, prefiro acreditar assim pra não magoar mais, minha mãe é que me disse que com o tempo é fácil esquecer, e tenho repetido várias vezes.

  A mensagem desse ano pra mim chegou atrasada, parece um tipo de retardo, mas é só meu ritmo troncho, vocês acreditam em ritmo? Pois cada um tem o seu, e tento pelo menos ver algo bonito nisso.

  E existe algo bonito no mundo, e esses que ferem não veem. Eu aguentei uma ‘tuia’ de dores assim. O que me doía era a faca no buxo da outra, o murro que deram na outra, o grito no ouvido dela, a falta de sensibilidade com ela, a imoralidade, o que era comigo, que foi comigo, e que todas sentem. Existe um tanto muito bonito nas companheiras sem apatia, simpáticas, selváticas, mães, mulheres que amam, mulheres que amam mulheres, mulheres solitude... Existe uma corrente invisível - norte sul leste oeste - que se antes eu não acreditasse no asé, isso bastaria. Bastou do começo ao fim do ano para não só viver, mas resistir, minha coragem tem vários nomes pessoais, se assume em várias formas, mulheres em suas diversas forças. Não é de ontem e nem de hoje, mas de agora mesmo, estou contando os segundos da gratidão.

  De todo sofrimento injusto, do joelho fodido, a mão ralada, o coração que não se aguenta, a cabeça rodada que não para... O que não é o bastante, preciso aprender de novo, e de novo. Que a gente chora de amor quando o amor deixa a gente e quando a gente deixa o amor, que às vezes o amor não nos serve, e às vezes a gente não serve pra o amor. Que reservamos boa parte do tempo para sermos egocêntricos, mas que mudamos com o tempo para ser humano. Que não pedimos muitas desculpas, e que pedir desculpas é bom, igual como pedimos por favor, beijinho e álcool.

  Sinto que o ano foi muito rápido pra quem não tem pressa, sabe?! A gente que faz tudo devagarzinho. Não deu nem tempo de raciocinar os orgasmos, pessoas passageiras passando muito rápido, não dei muita conta do recado. Não deu tempo de ajeitar o relógio, meio dia chegava rápido, depois dez horas da noite e acabou tudo. Não deu tempo de juntar dinheiro, não viajei pra longe, só viajei pra perto, dentro da minha cabeça.

  Ano que vem não prometo mais nada nada, nem que eu vou de bicicleta, nem que vou cuidar da minha vida, nem que vou sempre pra o Ilê, nem que vou visitar minha amiga, não prometo nada, porque promessa muda de rumo e tenho direito de mudar, ou pelo menos deveria. Eu só vou ser justa de graça, sem cobrar nada... E ouvindo música pra fazer trilha sonora das memórias, tá ligado? Na minha cabeça um rebuliço da gota esse tempo, com temporal, e muito sol também, eu ri pra variar a inveja do universo, deu certo um tempo. Escutei Karina Buhr, foi umas das mulheres mais incríveis que e senti nessa onda, da mensagem do disco que começa Enfrentar Leões, enfrentar... E termina Ela vale a própria hora, ela vale o pensamento. 


  Por fim, a tristeza é amiga da onça, ensina a enfrentar leões, passar por cima de uma coisa que tá no lugar da outra...


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