Amor Ausências Ardências

06/09/2017 Amanda Timóteo



  Na pressa que me traz de volta pra tua mão, me atento ao chão pra não fragilizar. Eu não acredito mais que o destino te arraste até aqui, na minha cara e um pé dos meus passos, nem acredito na força do destino, nem acredito mais em você. O mundo deu uma volta imensa em nós dois, lá daquele tempo até aqui, e as vezes volto sozinha pro teu colo, numa loucura inunda que me derruba, como um vento forte com teu perfume, ou um fumo, um filme e um disco.

  Ontem à noite sonhei com você, bonito e tão impressionista uma obra de arte, olhando pra mim esnobe e carinhoso, sorrindo comigo e rindo como se soubesse de tudo, uma história sem fim... Não lembro a última vez que sonhei, nem lembrava da última vez que tinha te visto, foi como se estivesse mesmo ali, no mesmo fundo de tela, com o mesmo amor que eu sentia.

  Te engoli hoje apulso. Acordei num tempo chuvoso e o meu corpo um clima ameno, úmido, reagindo aos meus pensamentos, quase como se você estivesse me beijando agora. Uma saudade tão grande do teu corpo e tua atitude, e da minha boca toda vermelha dos teus impulsos. Uma falta tão grande do espaço curto do quarto, do calor que fazia, da janela lá de cima que a gente fumava e ria.

  Quando me lembro, não forço nenhuma parada, teu amor nem era fundo, era leve e quente, mais perto da carne que do coração. Que moía minhas agonias, numa resolução simplista, casual... Eu ia e voltava, tu ia e voltava, num ritmo sem pressa e sem coragem de cobrar na volta.

  Nossa distância não é bruta, e as lembranças não machucam e chutam. Sei que quem sabe amanhã te encontre na rota do ônibus entre o centro e a casa, no verão quando fizer calor e num desses encontros casuais, cortamos os caminhos, só pra marcar a passagem, para reparar as vontades dos lábios e dos seios, de dentro do peito.



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